O mercado automotivo segue em tendência de queda após os resultados obtidos em julho. De acordo com a Anfavea (associação das fabricantes de veículos), foram licenciados 175,5 mil veículos no mês, o que representa queda de -3,8% em relação a junho. A produção de veículos também caiu entre os dois últimos meses, quando foram fabricados 163,6 mil veículos em julho, recuo de -2% comparado ao mês anterior.
Na comparação com o ano passado, quando a indústria enfrentava o pior momento das restrições da pandemia, houve um ligeiro acréscimo nas vendas no mês passado, de 0,6%. Contudo, a produção atual não conseguiu superar o patamar de 12 meses atrás, uma vez que ficou -4,2% abaixo do total de veículos fabricados em julho de 2020.
Quanto ao desempenho das exportações, julho também registrou resultado negativo. O país enviou quase 30% menos veículos aos mercados estrangeiros no período, com 23,8 mil automóveis exportados o que também representa uma queda de -18,4% ante a 12 meses atrás.
Para Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea, o desempenho mais fraco em julho é majoritariamente creditado às fortes consequências do desabastecimento de semicondutores, que vêm provocando desaceleração na oferta de veículos novos ao consumidor, além de outros problemas relacionados à cadeia de fornecimento de automóveis. Com isso, o nível de estoque disponível nas fábricas e concessionárias atingiu o seu menor patamar desde 1999. Atualmente, 85 mil veículos se encontram parados nos pátios, o que garante atendimento de 15 dias da demanda. Para efeito de comparação, antes da pandemia do coronavírus se instalar, os estoques giravam com 45 dias no último trimestre de 2019.
Para além dos desafios de produção que atrapalham a recuperação da indústria, Moraes também se revela "preocupado" com o poder de compra do consumidor brasileiro. "Nós temos cerca de 20 milhões de pessoas sem renda, isso é um Chile", destaca o executivo, que indaga "qual vai ser o tamanho do nosso mercado" quando os problemas de produção forem minimizados. "O PIB está crescendo 5%, mas nós viemos de uma queda de 4%. A retomada [econômica] tem que garantir emprego e renda, o nosso setor depende de volume."
O presidente da associação ainda afirma que a "capacidade de compra [do consumidor] tem um certo limite" quando aponta que a elevação da taxa básica de juros do país provoca aumento do spread bancário (diferença entre a Selic e o juros cobrados ao consumidor) que hoje, segundo o executivo, está na ordem de 22% com a Selic a 5,25%.