O Honda Civic Type R existe no exterior desde 1997 (baseado na sexta geração), mas estreou no Brasil somente em junho deste ano após muita expectativa dos entusiastas. Como tudo o que é bom dura pouco, o primeiro lote de apenas 100 unidades já se esgotou, tornando o hatch esportivo ainda mais exclusivo e cobiçado.
Os insanos R$ 429.900 pedidos por cada exemplar do Civic Type R obviamente assustaram muita gente, gerando inevitáveis comparações com esportivos de diferentes escolas - basta uma rápida pesquisa em sites especializados para encontrar de BMW M2 a Ford Mustang GT V8 usados anunciados na mesma faixa de preço do Honda.
O Civic Type R não tem o desempenho explosivo e a dinâmica arisca de um esportivo movido por um enorme motor de seis ou oito cilindros e tração traseira. A experiência ao volante do hatch é focada na precisão que muito carro mais caro não entrega.
O motor 2.0 turbo teve a potência reduzida de 330 cv para 297 cv para se adequar à gasolina brasileira com alto teor de álcool, mas os 42,8 kgfm de torque são os mesmos da configuração vendida na Europa e no Japão (320 cv nos Estados Unidos). Pode não parecer muita coisa diante do que esportivos mais caros entregam, porém, são números mais que suficientes para o Type R mostrar que é um carro diferenciado.
Conectado a um câmbio manual de seis marchas, o motor K20C1 (nenhuma familiaridade com o girador K20 aspirado do Civic Si de oitava geração) pode ser configurado pelos modos de condução Comfort, Sport e +R. Há ainda o Individual, que permite ao motorista personalizar os parâmetros do carro combinando os outros três modos.
Desde o Comfort, o Civic Type R não hesita em mostrar o seu caráter voltado às pistas. A suspensão é sempre firme e o motor responde prontamente aos comandos no acelerador – na estrada, ele faz retomadas impressionantemente rápidas mesmo em sexta marcha. A diferença é que a partir do Sport, o hatch já fica “com a faca entre os dentes”, pronto para baixar tempo em um track day num autódromo.
A coisa muda de figura ao acionar o modo +R no botão no console. O grafismo do painel digital troca os instrumentos convencionais por um conta-giros horizontal com faixa vermelha a partir de 7.000 rpm e destaca qual marcha está sendo utilizada naquele momento. Uma sequência de luzes, acompanhada de um apito, indica o tempo certo da troca de marchas.
Com o +R ativado, a central eletrônica do motor libera a cavalaria e deixa o acelerador mais sensível. Basta engatar a primeira, soltar a embreagem e pisar fundo no pedal do lado direito para o Type R dar um “bote” e alcançar os 100 km/h antes mesmo de passar para a segunda marcha na pequena alavanca de engates curtos e precisos, cuja manopla parece ter sido feita sob medida para a mão do condutor (basta um leve movimento do punho). Nas reduções, um recurso eletrônico realiza o punta-tacco automaticamente para manter o motor no giro ideal e pronto para aproveitar a marcha mais baixa sem trancos e nem perder tempo.
A Honda não divulga os dados de desempenho do Civic Type R, mas as nossas medições aferiram que o esportivo precisa de aproximadamente 6 segundos para ir da imobilidade aos 100 km/h.
O consumo, por sua vez, foi surpreendente para um carro com tamanho potencial de acelerar. Numa tocada mais tranquila, chegamos a fazer cerca de 9 km/l na cidade e 14 km/l na estrada –superior aos 11,1 km/l de consumo rodoviário que o Inmetro divulga.
Para um carro tão bom de guiar, os números de performance acabam ficando em segundo plano. A estrutura monobloco, reforçada com treliças e mais de 100 metros de adesivo em partes “estratégicas”, é absurdamente rígida justamente para que o controle da movimentação da carroceria nas curvas fique restritamente a cargo das suspensões.
O conjunto independente nas quatro rodas é dotado de amortecedores adaptativos, que variam a rigidez de acordo com o modo de condução selecionado. Mesmo no Comfort, o Civic Type R demanda cuidado ao passar em ruas esburacadas e valetas, pois raspa facilmente a parte inferior do para-choque dianteiro e as saias laterais. No +R, as suspensões ficam firmes a ponto de o carro “quicar” em vias com ondulações mínimas no asfalto.
Em resumo, o conjunto mecânico exclusivo confere uma ao Type R uma dinâmica acima do que o motor pode entregar e bem distante da capacidade de pilotagem da grande maioria dos motoristas. Preciso e seguro nas curvas de alta velocidade, o hatch até “abana” a traseira quando o condutor decide acertar a trajetória do carro numa tocada mais ousada. As bitolas alargadas para acomodar as suspensões dianteiras do tipo duplo A e as rodas de 19 polegadas, calçadas em pneus Michelin criados exclusivamente para o Type R, além de darem uma aparência mais invocada, também favorecem esse comportamento exemplar.
Como não é possível aproveitar esse potencial a maior parte do tempo, o Civic Type R trata bem os ocupantes ao oferecer ar-condicionado digital de duas zonas e multimídia com sistema de som Bose e conexão sem fio com Android Auto e Apple CarPlay. A parte de segurança também recebeu atenção especial para auxiliar o condutor quando ele não estiver acelerando o hatch nas pistas com assistências, como controle de cruzeiro adaptativo e alerta de ponto cego.
Veredito - O Honda Civic Type R é, literalmente, um brinquedo de gente grande. Prazeroso de guiar, o hatch cobra alto pela exclusividade e refinamento de sua engenharia pensada para criar um carro soberbo quando levado ao limite - e ainda tem o "plus" do câmbio manual, cada vez mais raro até mesmo entre os modelos de alto desempenho. Se considerarmos o quanto custa um esportivo europeu de níveis técnico e dinâmico semelhantes, o Type R não parece tão caro.
Ficha técnica Honda Civic Type R
Preço: R$ 429.900 (novembro de 2023)
Motor a combustão: dianteiro, transversal, 2.0 16 válvulas, turbo, injeção direta, a gasolina
Potência: 297 cv a 6.500 rpm
Torque: 42,8 kgfm de 2.600 a 3.500 rpm
Tração: dianteira
Câmbio: manual de 6 marchas
Direção: elétrica
Suspensão dianteira: independente McPherson de duplo eixo
Suspensão traseira: independente multilink
Freios dianteiros: discos ventilados de 350 mm com ABS e EBD
Freios traseiros: discos ventilados de 305 mm com ABS e EBD
Pneus: 265/30 R19
Rodas: liga leve 19 polegadas
Estepe: temporário 125/70 R18
Dimensões: 4.598 mm de comprimento/ 1.890 mm de largura/ 1.407 mm de altura/ 2.735 mm de entre-eixos
Peso em ordem de marcha: 1.451 kg
Volume do porta-malas: 337 litros
Volume do tanque de combustível: 47 litros
Aceleração de 0 a 100 km/h: 6 segundos (não-oficial)
Velocidade máxima: 280 km/h (estimada)
Consumo (Inmetro)
Ciclo urbano: 8,8 km/l
Ciclo estrada: 11,1 km/l
