A frase "conheça seu carro" está no livro 1, página 1 dos procedimentos para dirigir com segurança. Mas Peter Pyros, um senhor de 75 anos que vive em Cleveland, Ohio, chegou a se despedir da vida e dos parentes por não ter seguido essa regra básica. Uma ironia para quem escapou de câncer, AVC e passou por 9 cirurgias. Pyros entrou em seu Cadillac XLR 2006 e não conseguiu dar a partida porque a bateria arriou. As maçanetas das portas, também elétricas, deixaram de funcionar, levando o motorista a passar 14 horas preso no interior escaldante de seu conversível de capota rígida. O problema é que existem sistemas de liberação manual das portas tanto para quem está dentro quanto para quem está fora, como o manual do carro ensina.
Sem ele, provavelmente guardado em sua casa, Pyros ficou sem saber o que fazer. Tentou quebrar os vidros de seu carro para escapar, mas os Cadillac têm vidros mais espessos, para garantir um interior mais silencioso. Pyros não conseguiu quebrá-los. Apenas meia hora depois de ter ficado preso, a temperatura no interior já estava insuportável. Em entrevista ao Detroit Free Press, Pyros estima que a temperatura no interior do carro tenha passado dos 40ºC. O idoso desmaiou dentro do XLR por duas vezes.
Sem esperanças de escapar, Pyros escreveu um bilhete para seu sobrinho, seu parente mais próximo, explicando as causas de sua provável morte. E disse ter aceitado o inevitável até um vizinho, ao estranhar que a porta de sua garagem estivesse aberta, ter ido a sua casa. Sem conseguir abrir o carro, os bombeiros sugeriram a Pyros que abrisse o capô para eles poderem carregar a bateria. Com isso, o idoso conseguiu abrir a porta e se recuperar em um hospital.
Foi um final mais feliz do que o que teve James Rogers, 72, e seu cachorro em Port Arthur, no Texas, em 2015. Ambos morreram presos em um Corvette, que tinha sistema de abertura elétrica das portas semelhante à do XLR. Ainda que tenha sido um caso de desconhecimento do carro e, portanto, de responsabilidade do proprietário, a GM teve de fazer um acordo com os parentes de Rogers. Pyros também pretende processar a fabricante e, em sendo nos EUA, tem grandes chances de ganhar uma bela indenização. Para quem mora em qualquer outro lugar, a recomendação é conhecer bem o próprio automóvel. Sob pena de tomar um calor semelhante ao que Pyros teve de enfrentar. Ou coisa pior, como Rogers.