Em abril de 1998 a Renault iniciava as suas operações em São José dos Pinhais (PR) após avaliar durante muito tempo a viabilidade de construir uma fábrica no Brasil. E foi justamente o Mégane Scénic das fotos o primeiro carro montado pela marca francesa no país há exatos 25 anos, que tivemos a oportunidade de dirigir durante um curto percurso que nos fez viajar no tempo.
Além de ser o primeiro Renault nacional, esse protótipo da Scénic foi também a primeira minivan fabricada no Brasil. Além de inaugurar um segmento então desconhecido pelos brasileiros, a Renault Scénic trouxe soluções de aproveitamento de espaço inéditas por aqui.
Uma volta no passado
Embora seja conhecida apenas como Scénic, a minivan era derivada da família Mégane, que teve as variantes hatchback e sedã importadas da Argentina entre 1998 e 2005. A partir de 2006, o sedã e a perua de segunda geração passaram a ser produzidos no Paraná.
A principal inovação da Scénic (e das demais minivans) era o projeto que otimizava o aproveitamento do espaço da cabine sem comprometer o tamanho do porta-malas. Essa versatilidade logo conquistou as famílias então habituadas com sedãs e peruas derivadas de modelos compactos e médios.
A primeira Renault Scénic feita no Brasil tem a marcação de chassi 001, mas pode ser considerada o carro de número 000 por ter sido montada cerca de oito meses antes do início da linha de produção. “Esse carro é de antes das unidades pré-série, pois foi montado com peças trazidas da França para o treinamento dos funcionários”, explica Vagner Mansan, diretor da fábrica de São José dos Pinhais (PR).
Ostentando apenas 2.200 km rodados exclusivamente no interior da fábrica (por ser um protótipo, não pode ser emplacada), a unidade tem peculiaridades do modelo europeu. Os bancos dianteiros não possuem as famosas mesinhas inspiradas na aviação para os passageiros traseiros. A bateria ainda fica alojada sob o banco do passageiro da frente, que na Scénic nacional foi deslocada para o cofre do motor dando lugar a uma prática gaveta para guardar objetos.
Baseada na versão de entrada RT, a primeira Scénic nacional tem acabamento mais simples com para-choques sem pintura e rodas de aço de 15 polegadas com calotas. O motor é o F3R 2.0 de 8 válvulas movido somente a gasolina, combinado ao câmbio manual de cinco marchas. Na época do lançamento da minivan, em março de 1999, esse propulsor gerava 115 cv de potência e 17,5 kfgfm de torque. Havia também a opção do motor 1.6 16V de 110 cv e 15,1 kgfm.
No curto teste-drive realizado nas ruas de um condomínio fechado, o conjunto mecânico da minivan se mostrou bem disposto, chegando a superar uma longa subida em terceira marcha sem reclamar. Embora seja um carro antigo, a Scénic ainda se comporta como um veículo novo.
A ótima visibilidade proporcionada pela grande área envidraçada e as suspensões confortáveis são de dar inveja a muito SUV moderno. A posição de dirigir elevada causa certo estranhamento pela direção inclinada, mas o motorista logo se acostuma com a leveza dos pedais e da alavanca do câmbio.
Por se tratar de um protótipo baseado na configuração europeia, a minivan não possui rádio e nem ar-condicionado. Os pequenos retrovisores externos têm de ser ajustados manualmente, enquanto os vidros traseiros são operados por manivelas. Ainda assim, o acabamento interno é superior à maioria dos carros atuais, com direito a revestimento espumado sobre o painel e tecido aveludado nos bancos e nas portas.
O grande barato da Scénic eram os bancos traseiros individuais, que podiam ser reclinados ou removidos para ampliar o espaço de carga, transformando a minivan em um pequeno furgão. O porta-malas, que aparenta ter mais que os 410 litros declarados, ainda conta com um tampão rígido que pode ser utilizado como divisória. O espaço interno da minivan é outra característica que grande parte dos SUVs atuais ainda não conseguiram superar.
Além de inaugurar um segmento, a Renault Scénic também foi precursora de soluções produtivas no país, uma vez que foi o primeiro veículo a utilizar tinta a base de água no processo de pintura para gerar menos resíduos. Os para-lamas dianteiros feitos de plástico injetado também eram uma novidade que contribuía para a redução de peso do carro e ainda suportava leves batidas sem amassar.
A Renault Scénic sofreu uma reestilização em 2001, que trouxe melhorias, como faróis de policarbonato e o novo motor F4R 2.0 16V de 140 cv e 19,2 kgfm, com opção do câmbio automático de quatro marchas. Diferentes versões, incluindo a aventureira Sportway (2006), foram adicionadas à gama, que passou a ter o motor 1.6 16V com tecnologia flex a partir de 2005. A trajetória da minivan no Brasil foi encerrada em 2010, após 142 mil unidades produzidas (33 mil apenas no primeiro ano).
Apesar de o trajeto ter sido bem curto, foi possível relembrar uma importante parte da história da Renault e da indústria automobilística brasileira. A marca francesa prepara o seu próximo no Brasil com modelos eletrificados. A primeira novidade será o Mégane E-Tech, que chega no segundo semestre para celebrar os 25 anos da Renault no país.
Teste-drive a convite da Renault